Fazia uns cinco anos que não a via. Hoje, numa daquelas tardes mortas, quando o outono dá os seus primeiros indícios de aparição, com o vento frio e o sol fraco, ela apareceu.
Marcamos um breve encontro para o fim da tarde num ponto estratégico da cidade. Levantei-me do meu estado inerte e paralítico, sacudi uma camisa xadrez de flaneja e me dispus a caminhar ao seu encontro.
A vi entrando na galeria, com o olhar perdido nas vitrines. Estava diferente, com os cabelos mais soltos, o mesmo jeito de andar e balançar os braços. Caminhei em sua direção sem que me percebesse pelo gesto e a agarrei pela cintura, como surpreendendo-a. Sua risada soltou- se pelo ar como se o tempo nunca tivesse passado.
Fomos tomar um café. Entre conversas e recordações, percebia no olhar da filha do desembargador um distanciamento paradoxal, margeado por acontecimentos recentes, como a morte de um ente querido e grandes dúvidas de quem busca caminhar na vida. Passamos a andar, sobre a rua vazia, dando espaço para o vento e o cinza.
Passamos por lugares onde na minha memória eram vivos, espaços por onde percorri dezenas de vezes, cenários de boas histórias e romances. O tempo passou rápido naquela tarde, mas os ponteiros do meu relógio denunciavam que ainda tinha tempo antes de uma despedida e a convidei para um filme. Minha preocupação não era o filme nem o entreter, mas sim, estar perto da filha do desembargador, porque sabia que o tempo é cruel e muitos e muitos anos se passariam até eu poder revê-la novamente. E fiquei a fitá-la, nos gestos das mãos, na risada pelas besteiras faladas, no balançar dos fios dos cabelos, na beleza que aquela pessoa representava.
Passamos por lugares onde na minha memória eram vivos, espaços por onde percorri dezenas de vezes, cenários de boas histórias e romances. O tempo passou rápido naquela tarde, mas os ponteiros do meu relógio denunciavam que ainda tinha tempo antes de uma despedida e a convidei para um filme. Minha preocupação não era o filme nem o entreter, mas sim, estar perto da filha do desembargador, porque sabia que o tempo é cruel e muitos e muitos anos se passariam até eu poder revê-la novamente. E fiquei a fitá-la, nos gestos das mãos, na risada pelas besteiras faladas, no balançar dos fios dos cabelos, na beleza que aquela pessoa representava.
Mas nem tudo parecia certo, por detrás daqueles olhos e suas palavras ditadas ao longo de nosso encontro revelou algum tom acizentado. A filha do desembargador caminhou por sinuosidades e desvios turbulentos que nos rebatem para vários cantos apertados.
O filme acabou e na despedida a abracei, desejando dias mais claros e suaves, sem a penumbra da noite ou a dor melancólica após um porre. Que seus dias fossem suaves, como uma brisa da manhã.
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