24 de julho de 2011

Equilíbrio

Tudo o que ela precisava era equilíbrio. Diante da corda bamba da vida, ela capengava entre o lá e o cá, perdida em suas imersões, em suas desesperanças.

Eu estava por perto, por enquanto, e por quanto tempo me fosse permitido. Segurei as suas mãos diversas vezes, a fim de lhe dar o equilíbrio. Mas não eram as minhas mãos capazes de dar o equilíbro perfeito, pois eu mesmo me desequilibrava naquele momento. Seu equilíbrio estaria diante da vida, ainda a se encontrar, enquanto isso, eu e ela nos equilibrávamos.

Na passarela do metrô, senti suas pernas fraquejarem e a ameaça do contato com o solo real. Agarrei-lhe firmemente os braços ou em tudo o que eu poderia pegar. Segurei-a firme contra meu corpo, dando-lhe sustentação. Até aquele momento sentia-lhe os dedos frágeis pela doença, ainda. Era preciso um bom tempo para a sua recuperação total. Naquele mesmo instante, ela buscava diante da sua vida, um recomeço, um caminho, um destino. Já o meu destino estava ali diante de mim, mas eu não conseguiria caminhar se ela não me oferecesse também a sua mão. Por mais perto que estivesse, eu sabia que uma distância imensa me separava dela e ela de mim.

Coisas do destino. Acredito que, conforme me falaram um dia, uma portadora da mesma doença, que por muita coincidência, acaso ou o próprio destino mesmo, me deram a oportunidade de auxílio. E eu, sabendo disso um tanto que inconscientemente, tentei fazer o necessário.

Mas na corda bamba da vida um passo em falso desequilibra tudo e tudo ia para o chão. E foi assim que eu cai, ela caiu e nos estatelamos. Quebrei os braços, quebrei as pernas, rachou o crânio, despedaçou-se o coração. Nós caímos cada qual pra um lado oposto. A queda doía subjetivamente a mim, fisicamente a ela.

O equilíbrio entre eu e ela quebrou-se como uma garrafa de vidro que se parte ao chão em milhares de cacos. Juntar todos os cacos requer enorme tempo, mas mesmo assim comecei a juntá-los, como num quebra cabeça, para conseguir novamente subir na corda bamba e quem sabe reaver o meu próprio equilíbrio.

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