15 de agosto de 2011

Céu em seus olhos

Lembro-me de uma história de amor. Uma história bonita. Sempre nas quartas-feiras o telefone tocava, pontualmente no mesmo horário. A primeira vez que atendi, fiquei bastante mexido com aquela história, e foi assim todas as vezes em que o telefone tocou.

Era a história de uma mulher, perto da terceira idade. Sua história começara ainda na adolescência, quando conheceu seu primeiro amor, aos 13 anos de idade. Dizia-me ela que naquela época, nos anos 60, namorar era proibido e os jovens faziam isso escondidos. Me contou de como  um mal entendido a separou de seu grande amor, colocando seus destinos em caminhos diferentes. Ela casou-se, teve filhos, assim como ele também, mas o amor dos dois nunca havia morrido. Muito emocionada, me contou como doía-lhe as lembranças, de não ter vivido aquele grande amor. E era recíproco. 

Eu ouvia a narrativa com a máxima atenção, de quem lê um romance nas páginas de um livro, alheio ao mundo externo. A história intrigante se repetiu diversas vezes ao longo das semanas. Era sempre igual, mas contada com a mesma emoção e sentimento. O detalhe de sua história é que o objeto de seu amor havia falecido há alguns anos, e ela só soubera disso cinco anos depois. Por isso sentia a angustia inquietante de sua voz ao telefone. O amor partiu para um outro plano. Eu não sabia o que lhe dizer, confesso. Acho que meus 30 anos de idade eram poucos para responder a algo tão intenso e sublime. Entre ele e ela havia uma distância metafísica que os separavam. A vida e a morte, mas ela sempre estaria com os olhos nos céus, ou o céu em seus olhos.

Agradeceu-me a companhia, e despediu-se. Foi a última vez que ouvi sua voz e  sua história. Eu abandonava a minha posição de ouvinte, para viver minha própría história, antes que a saudade me batesse forte no peito.

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