E aí Doutor?

_E aí Doutor?

_ A pressão está ok. Tome bastante água, vou te receitar ciprofloxacino e paracetamol para aliviar a dor.

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Ontem à noite voltei ao hospital com dores terríveis do lado esquerdo do corpo. Fiz o caminho costumeiro de sempre, e não pude deixar de lembrar de fatos passados. Fiz um cálculo rápido e percebi que já se passaram cinco anos, desde 2006. E foi justamente em maio que nos despedimos para sempre. O tempo passa muito rápido, pois a cada passo dado, era como se eu estivesse alí, caminhando ao seu encontro, para uma visita noturna.

Ao ver o corredor, tive a ligeira impressão de que ela estaria alí, à minha espera. Era tudo muito real, como se eu realmente estivesse retrocedido no tempo. A situação era a mesma, corredor frio e vazio, apenas uma mulher com o uniforme verde do hospital caminhava lentamente, o que me fez lembrar de Dora. O que será que aconteceu com ela? morreu, sobreviveu à cirurgia cardíaca? Gostaria que a segunda hipótese fosse a verdadeira. Creio que jamais saberei da vida de Dora. Aonde quer que ela esteja, que esteja bem.

Atravessei a ortopedia e cheguei ao Pronto Socorro Central. Fiz a minha ficha e sentei nos bancos de espera. Também estive alí com Beatriz:

"_Está demorando muito

_Você precisa ter paciência, logo irão te atender.

Estavámos em pé naquele dia de março de 2006, no pronto socorro lotado. Ela sentindo dores e a falta de sensibilidade do lado direito do corpo, se apoiando contra o meu."

Meu pensamento foi quebrado com a residente me chamando. Fez uma rápida consulta e pediu para eu esperar o clínico me chamar.

Sentei novamente no banco e passei a observar as pessoas que estavam alí. Visualizei uma senhora idosa sendo carregada numa cadeira de rodas e com um tubo infiltrado no nariz. Ela parecia não estar muito bem. Próximo a mim, um rapaz de mais ou menos trinta anos, que trajava um blusão do exército, cheirava muito mal, parecia que estava há dias sem tomar banho.

Me chamaram novamente. Entrei na sala do clínico e após um exame e perguntas feitas:

_E aí Doutor?

_ A pressão está ok. Tome bastante água, vou te receitar ciprofloxacino e paracetamol para aliviar a dor.

_Ok, obrigado.

Saindo do pronto socorro, caminhei mais alguns metros até a entrada do corredor da neurologia, onde por dias e noites visitei Beatriz. Dei mais uma olhada para dentro e vi Dora com seu uniforme verde de paciente e um cigarro nas mãos, sorrindo pra mim e dizendo:

_É um prazer te ver de novo.

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