Não chore querida

_ Essas manchas brancas são lesões. Desgastes na camada de mielina, que ocasionam o mal funcionamento dos impulsos nervosos, o cérebro manda a informação, que não passa corretamente pelos neurônios, pela falta dessa substância. Trata-se de uma doença auto-imune, ocasionada pelo próprio organismo. A camada é destruída, mas a reconstituiremos com os corticóides.

Foram as palavras destituidas pelo jovem doutor Jeferson, em seu segundo ano de residência. O quarto estava cheio naquele dia. Gente nova. Era assim, uns iam, outros ficavam, e no vai e vem do hospital, Beatriz chorava.

_ Não chore querida.

Disse uma voz fraca, doce e ainda debilitada vinda do leito ao lado. Era de dona Maria, uma senhora magrinha e bem debilitada, que dividia a dor da doença com os outros pacientes do hospital. No leito ao lado, havia uma outra moça, conversei com ela por alguns minutos, enquanto Beatriz mirava sua atenção para a pequena idosa.

Costumeiramente era assim, dia a dia, noite a noite e o tempo demorava para passar. No andar do ponteiro, o relógio era inimigo, e a cada dia que passava, as incertezas imperavam na vida de Beatriz.

Era dia de visita. Eu era a única presença em seu universo naqueles instantes. Os familiares moravam longe e nem sempre podiam visitá-la. Mas era um dia alegre para dona Maria, era dia de sua alta. Os familiares vieram buscá-la, de volta pra casa. Neste instante segurei a mão de Beatriz e a senti apertar fortemente meus dedos.

_Ela vai embora. Vou ficar sozinha. Disse-me com melancolia.

_É sinal que ela está bem. Logo será você.

No desespero da situação que lhe avassalava a vida, na dureza da dor e da doença, não era dificil sucumbir. Beatriz lutava, mas era muito forte tudo aquilo. Somos humanos, somos sensíveis.

_ A senhora vai me deixar aqui? disse com as lágrimas já escorrendo pelo seu rosto.

_ Eu vou minha querida, não chore. Você ficará bem também, pedirei a Jesus por isso.

Dona Maria se aprontou. Era hora de partir. Num gesto maternal, dona Maria se levantou, com suas mãos frágeis e veias aparentes, abraçou Beatriz. Elas dividiram o mesmo estado, e jamais se reencontrariam novamente.

Os meus poucos minutos terminavam. Não queria deixá-la só. Ela precisava de amparo, e eu estava lá para isso. Queria arrancá-la daquele leito e levá-la comigo. Ou dar toda a minha saúde para ela, para não vê-la mais sofrer.

_Me dê sua mão.

Ela segurou novamente minhas mãos, e senti pingar lágrimas. O que eu podia fazer? me senti impotente. Queria que nada daquilo tivesse acontecido, mas estava fora do meu controle. Diferente da história que escrevi nas páginas brancas do roteiro, a primavera não era florida, mas fria como o inverno, com ventos fortes de tempestades. E passar por essa tempestade mudaria toda a rota da história, minha e dela, nos poucos meses que tive em sua companhia.

_Não chore querida.

***

Do not cry baby

_ Those white spots are injuries. Wear on the myelin sheath that cause the malfunction of nerve impulses, the brain sends the information, which does not pass correctly by neurons, the lack of substance. It is an autoimmune disease, caused by the body itself. The layer is destroyed, but reconstituted with steroids.

The words were dismissed by the young doctor Jefferson, in his second year of residency. The room was full that day. New people. It was so, some going, others stayed, and the coming and going from the hospital, Beatriz was weeping.

_ Do not cry baby.

He said a weak voice, sweet and continuing weakness coming from the next bed. Age of Dona Maria, a poor lady skinny and well, he shared the pain of the disease with other hospital patients. In the next bed, there was another girl, I talked with her for several minutes, while Beatrice was looking at your attention to the little old lady.

Usually went like this, day after day, night by night and the time it takes to pass. On the floor of the pointer, the clock was the enemy, and every passing day, uncertainty prevailed in the life of Beatrice.

It was visiting day. I was the only presence in his universe in those moments. The family lived far away and could not always visit her. But it was a joyful day for Miss Maria, was the day of his discharge. The family came to pick her up, back home. At this moment I held the hand of Beatrice and felt strongly push my fingers.

_SheLeaves. I'll be alone. He told me wistfully.

_Sign that she is fine. Soon you will be.

In the desperation of the situation which vassal to life, the hardness of the pain and illness, it was hard not to succumb. Beatriz struggled, but everything was very strong. We humans are susceptible.

_ Are you going to leave me here? said with tears already streaming down his face.

_ I will, my dear, do not cry. You'll be fine too, I pray to Jesus for that.

Dona Maria is ready. It was time to leave. In a gesture maternal, Dona Maria stood with her hands visible veins and fragile, embraced Beatriz. They shared the same state, and never again meet again.

My few minutes ended. Do not want to leave her alone. She needed support, and I was there for that. I wanted to tear it off of that couch and take it with me. Or give all my health for it, not to see her suffer anymore.

_Give me your hand.

She held my hands again, and felt tears dripping. What could I do? I felt helpless. I wish none of this had happened, but it was out of my control. Unlike the story I wrote in the white pages of the script, the spring was not flowery, but cold as winter, strong winds from storms. And going through this storm would change the entire route of the story, mine and hers, in the few months I've had in your company.

_That Cry baby.