Lobos brancos

_ O tempo poderia congelar aqui, neste exato momento.


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Sentados na praça, ele acariciava os fios castanhos de seus cabelos, enquanto ela contava sua história de vida. O dia era agradável, naquela tarde de sábado. Era a segunda vez que se reencontravam, após tantos anos de inexistência dele para ela. Ela sempre existiu para ele, mas ele para ela, era uma novidade, como se fosse a primeira vez. Era preciso muita paciência, pois ela morou em seus pensamentos por toda a sua vida, e ela não se lembrava dele, e se esforçava por encontrar fragmentos em sua memória que o identificassem no seu passado.

Tudo parecia muito perfeito naquele momento. A doença ainda não havia e ele não sabia que o roteiro que construira jamais seria o que escreveu para si próprio. Eles estavam num banco de praça, por volta das 17 horas, naquele dia de fevereiro. O tempo estava agradável e sua memória trabalhava a todo o vapor. Lembrou-se do ano de 1985, quando bateu uma foto naquela mesma praça, na infância entre as flores de margaridas. As margaridas já não existiam, mas as lembranças eram muito vívidas e cheia de cores e odores.

_ Eu queria entender você, juro! Existe um espaço de tempo muito grande entre nós. Não consigo compreender como alguém pode ter sido tão paciente, tão insistente. Às vezes julgo que isso não seja real.

_ Real não era, até dois dias atrás, quando te reencontrei. Tudo era sonho. Mas hoje você está aqui, perto de mim.

Ele tocou a mão dela comprovando a sua realidade. Ela era real e lhe parecia tudo muito inacreditável, e continuou tocando a sua mão, como se não acreditasse.

_ O tempo poderia congelar aqui, nesse exato momento, eu morreria feliz.

Soltou em leves palavras, sendo retribuído com um olhar e um sorriso.

A praça estava cheia de cães, pequenos, grandes, médios. Mas uma cena tão incomum marcou aquele dia. Três huskys siberianos correram em direção ao banco em que se encontravam, os cães pularam em cima e puseram-se a lambê-los. Eram três lobos brancos, enormes e dóceis. No meio dos lobos, eles se entreolharam e riram de si mesmos.

Foi um dia perfeito, raro, único.

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_ Faremos uma tomografia computadorizada do cérebro, para idenficarmos o local e o tamanho das lesões. Você quer uma cadeira de rodas ou dá pra ir caminhando?

Indagou a enfermeira. 

A cadeira de rodas chegou e a levou. Ele ficou no banco do corredor, à sua espera.

Quarenta minutos depois o médico chegou com duas chapas do cérebro.

_ Está vendo aqui? existem três lesões no centro do cérebro. Essas manchas são escleroses. Isso dá indícios de que pode ser esclerose múltipla, mas ainda é cedo para afirmar.

Pegou as chapas nas mãos e pôs-se a observar a imagem do cérebro. Era estranho para ele observar o cérebro dela. Ele nunca pensou que veria o que tinha por dentro de sua cabeça, seria bom se fosse uma chapa interna do coração. Buscou dentro da imagem identificar algum sinal seu dentro da memória dela. É claro que estava devaneando. Mas no fundo, ele adoraria encontrar alí, dentro daquele cérebro, algum vestígio de lembrança sua. Mas o que chamou a sua atenção, fato curioso e coincidente, eram que as três manchas do cérebro lembravam lobos, três lobos brancos.

_ Cinco minutos.

Informou a enfermeira, anunciando o tempo que faltava para o fim da visita.

_ O que você trouxe hoje para mim? Trouxe meu chocolate?

Ele retirou do bolso uma barra de chocolate.

_ E o poema?

Ele retirou um papel amassado de seu bolso e leu em voz alta:

_ O amor é fogo que arde sem se ver....

_ Você já foi mais criativo!

Puseram-se os dois a rirem, naquele quarto branco de hospital.

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Translation from portuguese into english by google.

White Wolves 

The time could freeze here, right now.

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Sitting on the square, he stroked the strings of his brown hair as she told her life story. The day was nice, that Saturday afternoon. It was the second time they rediscovered after many years of absence it for her. She was always there for him but for her, was a novelty, as if for the first time. It was to be patient, because she lived in his thoughts throughout his life, and she did not remember him, and he struggled to find fragments in his memory that identifies him in his past.

Everything seemed so perfect at that moment. The disease had not and he did not know the script that had built what would ever wrote for himself. They were on a park bench, around 17 hours that day in February. The weather was pleasant and his memory was working at full steam. He remembered the year 1985, when he hit a picture on that same square in childhood between the flowers of daisies. The daisies are gone, but memories are very vivid and full of colors and scents.

_ I wanted to understand you, I swear! There is a great time with us. I can not understand how someone could have been so patient, so insistent. Sometimes I think that this is not real.

_ Real was not until two days ago, when I met her. Everything was a dream. But today you're here next to me.

He touched her hand proving its reality. She was real and everything seemed too unbelievable, and continued playing his hand as if he did not believe.

_ The weather could freeze here, right now, I would die happy.

Uttered words: light, being rewarded with a look and a smile.

The square was full of dogs, small, large, medium. But a scene so unusual scored that day. Three Siberian huskies ran towards the bank where they were, the dogs jumped up and began to lick them. There were three white wolves, huge and docile. In the midst of wolves, they looked at each other and laughed at themselves.

It was a perfect day, rare and unique.

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_ We will do a CT scan of the brain to self-identifying the location and size of lesions. You want a wheelchair or can you go hiking?

Asked the nurse.

The wheelchair arrived and took her. He stood in the aisle seat, waiting.

Forty minutes later the doctor arrived with two plates of the brain.

_ You see here? There are three lesions in the midbrain. These spots are sclerosis. This suggests that there may be multiple sclerosis, but it is still early to say.

He took the plates in their hands and began to observe the image of the brain. It was strange for him to notice her brain. He never thought he'd see what was inside your head, it would be nice if it was a plaque inside the heart. Sought within the image to identify any sign of her in her memory. Obviously I was daydreaming. But deep down, he'd love to find there, inside that brain, some vestige of his memory. But what caught his attention, curious and, coincidentally, were the three spots in the brain resembled wolves, three white wolves.

_ Five minutes.

He informed the nurse, announcing the time that remained to the end of the visit.

_ What have you brought for me today? I brought my chocolate?

He drew from his pocket a bar of chocolate.

_ And the poem?

He pulled a crumpled paper from his pocket and read aloud:

_ The love is fire that burns unseen ....

_ Have you been more creative!

They began to laugh both at that white room of the hospital.