Gota a Gota, o soro caía em suas veias levando os corticóides através da corrente sangüínea para as áreas debilitadas do cérebro. Seu pulso estava roxo devido à agulha, que era segurada por um esparadrapo.
Antes eu havia passado na capela, procurando o capelão que havia levado a rosa azul. Não o encontrei.
Encontrei Dora, fumando no pátio, com seu uniforme verde de paciente.
_ E aí Rapaz, você de novo?
_ Pois é...
_ Você não cansa né? acho bonito isso...
_ Não canso... para mim, cada fragmento de segundo é extremamente fundamental.
Dora inspirou demoradamente a fumaça de seu cigarro.
_ É hoje.
_ É hoje?
_ Sim, é hoje.
_ Está com medo?
_ Um pouco... uma cirurgia nunca é igual a outra, apesar dessa ser a terceira vez.
_ Torço muito por ti Dora.
_ Eu sei... eu também. Preciso ir jovem, quer que eu dê algum recado?
_ Não precisa, hoje à noite eu tento pular a janela de novo.
Dora ri.
_ Eu gosto disso... Isso é vida.
Apertei as mãos de Dora e nunca mais a vi. Não sei se a cirurgia cardíaca deu certo. Espero que sim. Ela ainda era muito jovem para morrer.
Eu ainda tinha alguns minutos pra permanecer alí, e adentrei no quarto de hospital. As paredes brancas eram de um silêncio vazio indescritível. Segurei a sua mão.
_ Dói?
_ Um pouco....
Dei um beijo na roxidão de suas mãos, enquanto gota a gota os corticóides viajavam por suas veias.
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Duas coisas me deixam feliz...quando a escrita de alguém vai se tornando cada vez melhor a cada texto que leio, e quando tenho a oportunidade de ler algo que saiu de um momento forte da vida de outras pessoas.
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Lindo seu texto, Lourenço! Concordo com a Dani.
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