23:14 PM quinta-feira.
Estava muito frio e as janelas do ônibus embassadas. Eu estava sentado nos últimos bancos pra aproveitar o aquecimento do motor.
Ela adentrou, vestindo seu sobretudo preto. Tinha traços nipônicos e maçãs do rosto salientes. Nunca nos cumprimentamos, apesar das idas diárias no mesmo coletivo. Ela sentou-se perto, próximo ao motor, em busca de aquecimento também.
O ônibus partiu com meia dúzia de passageiros, os mesmos de todos as noites. Um rapaz ouvia funk em seu celular, sentado algumas poltronas à frente. Próximo ao bairro do Bixiga, o ônibus dá uma freada brusca, fazendo arremessar o celular do rapaz, cortando a música imediatamente, e um papel dobrado em várias facetas que veio parar em meus pés.
Peguei o papel nas mãos e ao olhá-lo, pude ler uma pequena frase que dizia "Eu te amo mesmo assim".
_É meu. Disse-me a moça nipônica.
Entreguei o bilhete à moça, que o guardou no meio de um livro.
Desci num ponto na avenida paulista, para pegar o próximo ônibus.
No ponto, um rapaz falava ao celular. O meu ônibus apontou no horizonte e dei sinal. Antes que pudesse entrar, pude ouvir o rapaz proferir as seguintes palavras:
_Eu te amo mesmo assim.
Sentado no fundo do ônibus perto do motor, um outro rapaz escutava sertanejo em seu celular.
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