17 de março de 2013

Relato de Viagem - Minas Gerais

Meu nome é Ronaldo e como um urbanóide nascido e criado na cidade grande, tenho um fascínio peculiar sobre o interior de Minas Gerais, especificamente pelas cidades históricas, que são um misto de cultura, aventura e natureza.

Quatro anos após a minha primeira visita (São João Del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Ouro Preto e Mariana), escrevo aqui o meu olhar renovado e muita coisa mudou. Posso confessar que quando tudo é novidade tudo parece mais belo, o segundo olhar mantém o primeiro, mas com um poder de descoberta muito mais apurado.

Parti de São Paulo na sexta-feira, dia 15 de fevereiro, fui depois do carnaval pra fugir um pouco da muvuca e dos albergues super lotados, já que minha busca era pela calmaria. Minha rota era revisitar a velha Ouro Preto, partindo para Congonhas onde queria reencontrar as obras do Aleijadinho e a sala dos milagres, depois seguir para BH e de lá decidir se embarcaria na grande aventura do trem da Vale do Rio Doce partindo de BH rumo à Vila Velha no ES onde visitaria o oceano azul das praias capixabas. Os percausos que encontrei me desviaram da rota. Nesse primeiro dia, já encontrei o primeiro problema: Os ônibus diretos para Ouro Preto estavam lotados (por isso compre com antecedência), e como eu queria viajar pela madrugada para ter o sábado livre, optei por um caminho que se caracterizou um grande erro. Peguei o ônibus até São João Del Rei, às 21h40 e cheguei às 6h30 do sábado. O problema é que o Vila Hostel, onde fiquei hospedado em 2009 não existe mais, uma pena! O hostel era bom, e nesse momento tomei a primeira decisão: Ou procurava um hotel (o que ia sair caro), ou partia já pra Congonhas. Parti para Congonhas, chegando lá às 8h30. Eu estava cansado pela viagem e queria explorar com calma a área além no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos, onde estão as famosas estátuas de pedra sabão dos 12 profetas esculpidas por Aleijadinho, que por sinal, já conhecia.

Aí tem-se um complicador: Para chegar a Ouro Preto a partir de Congonhas, não há ônibus direto e é necessário ir até Ouro Branco e de lá pegar um outro ônibus para Ouro Preto. Os horários colhidos na internet no site da Viação Sandra estavam todos errados, o que quebrou as minhas pernas. Pelos cálculos que fiz, só chegaria em Ouro Preto lá pelas 18hs. Eu poderia ter deixado simplesmente a mochila num guarda volumes e já explorado a área, afinal era cedo. Mas eu estava com muita dor de cabeça. O próximo ônibus para Ouro Branco sairia ao meio dia, o que me deixaria 4hs no aguardo. Perguntei a um taxista que fica na rodoviária quanto sairia a corrida de Congonhas até Ouro Branco, e o preço dado foi de 60 reais! Lembrando que o ônibus Congonhas-Ouro Branco custa 5,50.

Na rodoviária um rapaz me pergunta se eu iria pra BH e me informa que de lá poderia pegar um ônibus para Ouro Preto, o que minimizaria meu tempo, mas não meu gasto, optei por essa opção, grande erro!

BR 040 - Rodovia da Morte: No táxi estávamos eu, o rapaz, uma outra moça e o motorista, bem gente boa por sinal. A corrida ficaria 20 reais para cada um, previamente já combinado com o motorista. O percurso é uma adrenalina à parte. A rodovia é mão dupla, marcada por sinuosidades e curvas fechadas, extremamente perigosas. No meio do caminho é possível perceber rodas, pára-choques e outros pedaços de carros, provavelmente ocasionados por batidas espalhados pela pista e pelos canteiros. O velocímetro do táxi marcava 140km por hora, quando um caminhão carregado de minério de ferro avançava na traseira do táxi pedindo espaço.







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O motorista abriu e o caminhão rasgou em velocidade ao nosso lado, vejam... o táxi estava a 140km/h, provavelmente o caminhão estava a 160km/h. Imagina quantas toneladas a tal velocidade, o impacto que isso causaria? O coração vai a mil e pensei que daquele dia não passaria. O entorno é marcado por obras e atividades de mineradoras como a Vale do Rio Doce:

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Área de extração de minérios por mineradoras. Minas Gerais
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Não é à toa que essa rodovia é conhecida como a rodovia da morte, segundo relato do próprio motorista, acidentes são frequentes e quase diários. Se o motorista perde o volante numa das curvas, um abraço, colisão, e no caso de caminhão, este passa por cima de quem estiver vindo em sentido contrário. Outro problema, não há como trafegar em baixa velocidade senão o carro será engolido por quem vem logo atrás, em alta velocidade. Ou seja, se tiver outra opção, evite essa rodovia de carro, que é um perigo eminente à vida.

Belo Horizonte: Após uma hora, cheguei em Belo Horizonte. A primeira impressão não foi boa. Cidade grande, me lembrou logo São Paulo. Pra quem quer fugir da agitação e do barulho do trânsito, BH não é uma boa. Desci na Rodoviária e de lá embarquei no ônibus para Ouro Preto. Voltamos à BR 040, mas dentro do ônibus é mais tranquilo, porque você está envolto à uma caixa de aço maior e mais potente, o que confronta com o tamanho dos caminhões, deixando mais justa a temeridade entre os dois motoristas. Com o táxi há uma tremenda desvantagem. O percurso é demorado, levei 2 horas e 25 reais a menos no bolso, preço da passagem.

Ouro Preto: O choque da primeira vista de Ouro Preto não existe mais. Nunca perde o charme, mas numa segunda vista, você percebe que já passou por aqueles lugares e por mais que as ladeiras reforçam esse pensamento, nunca é tarde para descobrir coisas novas, pessoas e uma Mina de Ouro encantadora de um rei Africano chamado Chico. Desci do ônibus e caminhei até o Ouro Preto Hostel, você precisará caminhar uns 15 -20 minutos até chegar lá e se tiver de barriga cheia com um tênis de sola baixa e mochila pesada nas costas, tenha certeza que é bem capaz de sair rolando ladeira abaixo. O calçamento feito de pedra pelos escravos tornam a marcha lenta e exige um certo cuidado onde você pisa. No meu caso, enfiei o pé num espaço entre duas lajotas de pedra e senti uma torção no tornozelo direito, o que ocasionou uma luxação.

Para se chegar lá, é mais ladeira abaixo do que ladeira acima. O lado bom é que tem alguns mercadinhos baratos onde você pode comprar mantimentos. E o interessante no trajeto é que adentrei becos estreitos que pareciam labirintos e um córrego sob uma ponte. Você chega a se perder, mas é uma ótima oportunidade para fazer contato com os moradores das casas e com a criançada que brinca de bola sem se preocupar com o tempo. Parei ao lado de um grupo de crianças e pedi a informação. Foi divertido, pois ambas queriam informar o forasteiro. Coordenadas passadas, tive uma sensação bacana ao perceber que o hostel fica quase ao lado da Mina do Chico Rei, que merece um capítulo à parte.

Ouro Preto Hostel: Menos visado que o Brumas, eu era o único hóspede da noite. Fui atendido por Marisa, uma senhora simpática por quem criei grande empatia e que não sabe falar o r das palavras e fala "Polta" ao invés de "Porta" dando um charme sonoro nas palavras soltadas. Me indicou o quarto coletivo, onde permaneci o tempo todo sozinho. O quarto que fiquei tem uma vidraça ao invés de uma das paredes e é menos apertado do que o hostel de BH. O banheiro fica num corredor logo à frente e é coletivo tanto para homens como para mulheres, portanto, tomem cuidado senão te pegam com a cueca na mão. O Café: Nota 10. Tem o famoso pão de queijo, dois tipos de bolo e por ai vai. Aproveita e enche a pança pra não sair gastando em Ouro Preto, um salgado e um suco sai quase 10 pilas. Na sala social, acostume-se com lagartixas que parecem lagartos e borboletas coloridas que pousam sobre as paredes.

A Mina do Chico Rei, um retorno ao passado: Larguei a mochila e fui explorar a área. Dei de cara com a Mina do Chico Rei cuja reza a lenda, era rei na África e veio trazido escravo para o Brasil, onde trabalhou na mina que leva o seu nome, pois acumulava ouro debaixo das unhas para posteriormente alforriar os escravos.

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Entrada da Mina.
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Grande sujeito. A mina já chama a atenção logo na entrada. Trata-se de uma casa rústica, com mobiliários rústicos, onde comporta um restaurante onde se ouve jovens cantando músicas do Milton Nascimento, Lô Borges e Flávio Venturini. Rolou até um Renato Russo.

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Móveis rústicos
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No restaurante são servidos o que há de melhor na culinária mineira, porém o preço é bem turístico. Logo na entrada, dá-se de cara com móveis antigos e uma cachaçaria, onde é possivel provar um copo de cachaça das boas e adquirir uma garrafa por uma bagatela, digamos, justa pra quem tem dinheiro sobrando. Para visitar a mina, o preço são 10 reais. Um guia se apresentou: Tratava-se de Ademir, segundo o mesmo me disse, seu nome de batismo, mas que posteriormente virou Indiana Jones e há 5 anos se chama por Bianca Pink. Figuraça!

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Ademir, Indiana Jones ou Bianca Pink.
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Você contrata o guia e paga o que achar justo. Antes da entrada da mina, há uma cozinha-lanchonete onde são preparados os pratos, mesas de pedra, um chafariz onde é possivel tomar água da mina potável e criteriosamente analisada, direto da bica. Patos e galinhas dançam para lá e para cá observados pela figura de branca de neve e os sete anões feitas de cerâmica que adornam o ambiente. Bem legal. Dentro da Mina, Indiana Jones, ops, ou melhor, Bianca Pink faz uma esplainação sobre a história da mina. Antes que me esqueça, é preciso usar uma touca e um capacete de engenharia civil, Bati a cabeça três vezes nas rochas da mina que vai se estreitando na altura à medida que vai sendo adentrada.

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Cabeçadas à vista.
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A mina é um espetáculo. Para os geólogos de plantão, é um prato cheio. As pessoas costumam sair um pouco sujas de lá, mas eu sai parcialmente sujo de areia e terra. Pinga água do teto, e pra quem tem claustrofobismo, não é aconselhável. É o passeio que mais valeu a pena nessa segunda visita a Ouro Preto. Ao final, agradeci Bianca Pink, não encarei o almoço e parti pra bater foto da casa que é bem interessante.

Partindo para Congonhas: Essa foi treta das brabas! e me fez lembrar que no primeiro dia que passei por lá, já deveria ter aproveitado e cumprido minhas missões. Altos perrengues. Acordei cedo no domingo e de cara já perdi o ônibus das 7h30 para Ouro Branco. Olhei os horários que coletei da internet no site da viação Sandra e vi que tinha um ônibus ao meio dia. Pelos meus cálculos, ainda me sobrava uma folga para fazer a visitação tranquilamente. Cheguei na Rodoviária de Ouro Preto e fui informado pela moça do guichê que esse ônibus do meio dia não existe, e que o próximo era às 13h15. Ou seja, todo meu esquema tático começara a ir por água à baixo. Mas como eu já estava lá, o jeito era seguir em frente, afinal, cada dia perdido era gasto no bolso. O ônibus chegou no horário e os passageiros embarcaram. O caminho para Ouro Branco é interessante: Belas paisagens, entradas em algumas cidadezinhas onde é possivel apreciar o bucolismo regional, algumas construções antigas e montanhas, muitas montanhas. Chegando em Ouro Branco uma hora e meia depois, nova surpresa: Tinha acabado de sair um ônibus e o próximo era somente às 15h40. Infelizmente as empresas parecem não se preocuparem com as questões dos horários, de forma a tornar hábil o descolamento entre uma cidade e outra sem o risco da pessoa perder um ou outro ônibus. Digo isso porque é questão de minutos. Se tal ônibus saisse 15 minutos antes ou depois, seria visivelmente possivel a conciliação nos horários. Se eu pegasse o ônibus das 15h40 rumo à Congonhas, obrigatoriamente teria que sair de Congonhas no ônibus das 16h15 para poder chegar em Ouro Branco novamente e pegar o último ônibus para Ouro Preto, às 19hs. Havia um ônibus às 18h30 que saía de Congonhas para Ouro Branco, mas era praticamente impossível pegar esse e dar tempo de embargar no de Ouro Preto. O risco seria eu perder e dormir na rodoviária. Era preciso tomar uma atitude rápida. Não tinha como retornar no dia seguinte e nem partir sem visitar a sala dos milagres, minha missão principal da viagem. Uma passagem para Ouro Preto, no ônibus das 19hs. Assumi o risco. Peguei o das 15h40 rumo a Congonhas, sem saber como voltaria a Ouro Branco. Cheguei em Congonhas às 16h10. Não havia tempo a perder. Conversei com um taxista que cobrou 15 reais até o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Achei caro, mas nao havia tempo. No meio do caminho, perguntei a ele quanto sairia para levar até Ouro Branco: Bagatela de 60 reais. Diante da minha feição, ele fez uma proposta: Te cobro dez reais essa corrida até o Santuário, se você combinar comigo de ir até Ouro Branco por 60 reais, totalizando 70. Como eu estava na lama mesmo topei. Chegando ao Santuário ele cobrou: 15 reais a corrida. Pera-lá, não eram dez? 15 reais, enfatizou. Senti uma tentativa de enrolação. Paguei os 15 reais e combinei às 18hs dele passar lá pra irmos a Ouro Branco. Me senti um tanto lesado, o cara diz uma coisa e faz outra. Mas eu dei o troco. Congonhas é surreal. Aleijadinho mestre. O Barroco e o rococó estampado nas figuras e olhares emocionam. Até quem não é crítico de arte, percebe a beleza do estilo e a sensibilidade do artista. O céu estava bonito, misturando tons de azuis com amarelo do Pôr-do-Sol e um cinza tímido de nuvens que trazem chuva, mas que não quiseram estragar a beleza do céu azul.

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Sobre um céu azul e cinza.
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Sala dos Milagres. Esse era o ponto principal da viagem. Agradeci a graça dada, colei meu bilhete nos ínumeros outros que preenchem a sala e li uma história interessante de uma foto datada de 1931. Na foto, um homem contava que caminhava com seu cavalo pelos campos esverdeados, quando um raio o alvejou junto com seu cavalo. O cavalo não resistiu, a árvore rachou no meio, os botões da camisa e botas chamuscaram, mas o homem saiu ileso. Milagre? não duvido. É uma sala especial com muitas histórias de dor que se reverteram em cura ou melhoria. Só sei que estava lá por um motivo especial. Na saída, percebi um velho cachorro deitado sobre o piso frio. Senti muita dó, porque gosto de bicho. O cachorro estava bem magro, pedindo um afago. Toquei a cabeça do amigão desejando naquela casa dos milagres que as coisas para ele melhorassem. Creio que ele ficará bem, é o que mais desejei em toda a viagem.

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Ele merece muito mais.
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Às 17 horas desci o gramado que levam às cúpulas, num fim de tarde agradável, pensando comigo, como voltaria à Ouro Branco. Como não sou feito de pedra-sabão, resolvi que daria um balão no taxista charlatão. Encontrei um outro táxi estacionado na esquina e perguntei se não fechava a corrida por 50 reais. O motorista topou, ganhei dez reais e ainda tive uma aula sobre inundações e caracteristícas urbanísticas de Congonhas. Valeu os 50 paus. Cheguei à tempo na rodoviária e rumei para Ouro Preto.

Dica: Evitem os táxis, são caros. Informem-se sobre os horários de ônibus diretamente na rodoviária, acordem cedo e façam a visita sem correria. Tudo dará certo, eu acho rs.

De volta a Ouro Preto percebi que só tinha dois reais no bolso. A maioria dos lugares não aceitam cartão de débito ou crédito, portanto, carregue a carteira com algumas notas, senão, roça. Como já era noite, por volta das 22h, tive que atravessar uma rua estreita, quase sem calçamento, que passa rente uma igreja velha setecentista com um cemitério do lado, se você tem medo de fantasma não recomendo, dá pra ouvir umas coisas estranhas lá.

O legal de ficar em Hostel é que parece um congresso da ONU. Chegaram duas Norueguesas, mas não deu tempo de interagir, peguei a mala cedo no dia seguinte e parti pra BH. Tomei um choque. BH é tão caótica como São Paulo.

Em BH peguei o metrô, que é logo atrás, na estação Lagoinha. O Hostel Chalé Mineiro, fica três estações da rodoviária, num percurso que leva de 10 a 15 minutos. Uma caminhada leve de 200 metros te leva ao Hostel.

Chalé Mineiro Hostel: É uma casa enorme e bem organizada. A recepcionista é bem simpática e te dá todo auxilio. Você ganha uma chave para entrar e sair da casa que deve ser devolvida no check out. A sala é ampla, com TV e dvd e um computador com internet. Meia hora 2 reais e 1 hora 3 reais. A casa tem piscina que pode ser usada e vários banheiros. A área de convivência é grande e dá pra cozinhar. Ponto positivo para a parte superior onde fica a lavanderia, poucas pessoas descobrem que a casa tem esse canto, onde duas estátuas de anjos repousam e observam o fim da tarde. Há uma mesa e uma cadeira sob um guarda-sol pra você ler e apreciar o cair do dia. É o lugar mais bacana da casa. Os quartos: Coletivo masculino muito amontoado. O Hostel está sempre cheio, chegando gente. Havia quatro beliches, o que deixou o quarto apertado. No quarto havia dois americanos, um deles, o John entrou num embate político quando perguntei de qual estado americano ele era. Texas. "Terra do Bush" ai virou discurso de republicano com petista. Há padarias e sacolões próximos, assim como ônibus indo e vindo. Porém, achei os preços das padarias caros, mais caros até que em São Paulo. Descobri que há um bar-buteco-restaurante que serve PFs (pratos feitos) por 7 reais, se chama Sacramento's, faz jus ao nome porque você sai de lá rezando, porém se você for corintiano não vai curtir, o bar é todo verde, desde as paredes e mesas e cadeiras, ao uniforme dos atendentes. Clorofila pura! A comida é boa, mas lembre-se: é um buteco. Se você for mais exigente não vai curtir. A minha intenção era a busca pelo bucólico, o lirismo que falta nas grandes cidades. Queria ver o verde da natureza e as construções antigas, tão fascinantes como belas. No dia seguinte acordei bem cedo e fui conhecer a histórica Sabará.

Sabará, a grande surpresa: Sabará está a mais ou menos 20km de BH, entao, decidi que era pra lá que eu iria. Acordei cedo e rumei à rodoviária. Lá descobri que o ônibus para Sabará saia da rua Caetés, no centro comercial, em frente à Loja Rede. Roda 40 minutos e desemboca numa avenida onde corre um córrego. Subi uma ladeira e dei de cara com um cemitério e a belíssima Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo. Por 2 reais você visita ela por dentro e vislimbra os foleamentos a ouro e os móveis e objetos da época, além de trocar uma idéia com o Sr. Ari, que cuida da igreja. Saindo de lá caminhei pelas ruas calmas até me deparar com o Museu do Ouro. Se prepare que você vai precisar de algumas horas para percorrer todas as salas, e contemplar a enorme roda de madeira maciça que está exposta no quintal, onde os escravos da época faziam a separação dos minerais. Só tome cuidado com as aranhas, há diversas sobre a estrutura de madeira e você pode ser picado. Quase tomei uma.
Sabará em si exala um ar campestre. Como estava longe do centro histórico, me indicaram uma igreja riquissima em detalhes e onde um Cristo de quase dois metros de altura impressiona pelo detalhadamento e expressividade que passa. A igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição é uma das mais antigas de Minas é uma das mais exuberantes. Com o tempo já estourando, os nativos me indicaram conhecer a pequena igreja de Nossa Senhora do Ó.

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Igreja Nsa. Sra. do Ó.
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Precisei caminhar bastante até chegar nela. Atravessei ruelas, becos e uma linha de trem, e me deparei com ela no centro de uma ladeira. É a menor igreja das cidades históricas, e a que mais gostei. É tão pequena, mas ao entrar você se depara com tamanha beleza artística que só indo lá pra ver. Não deu tempo de conhecer o centro histórico, peguei o ônibus, cheguei em BH, arrumei a mochila e fui encarar uma viagem de 5 horas, até chegar em Diamantina.

Diamantina, a menina dos olhos: Desisti do trem da Vale do Rio Doce. 14 horas de viagem atravessando montanhas mineiras com a linha de chegada em Vila Velha no ES. Vai ficar pra uma próxima. Nas mãos, um exemplar de um livro antigo, da série vagalume, você de 30 anos certamente se lembrará.

Spharion
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Spharion, história que se passa nas ruas de Diamantina e Congonhas.
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Foi uma das melhores literaturas que li na infância e justamente a história se passava em Minas Gerais, nas cidades históricas de Congonhas, Diamantina e Serro. Pela primeira vez vislumbraria onde os personagens Dico Saburó, Dina e o temível Spharion percorreram e fascinaram a criançada da época. A viagem é um tanto longa, e a dica é: A viação Pássaro Verde cobra a passagem mais barata no ônibus das 18h45, de 75 reais por 55 reais, 20 reais poupados. Você passa por algumas cidadezinhas como Curvelo e Gouveia. Bem provincianas. Cheguei por volta das 23h30. O Hostel é relativamente perto, uma caminhada em linha reta, cerca de 200 a 300 metros da Rodoviária.

Diamantina Hostel: Disparado o melhor Hostel que conheci. É uma casa gigante, parece um hotel fazenda. Os móveis são rústicos, os quartos são todos suítes. Os quartos são identificados por nomes de minerais como Safira, Rubi, Ametista (o quarto que fiquei) e na porta há uma breve esplainação contendo informações sobre o mineral. Mais uma vez era o único hóspede do hostel. O chuveiro é a gás e exigirá uma mão calibrada pra atingir a temperatura ideal. A pressão é forte. O chuveiro é bom, confia que vai. O café da manhã tem suco, vitaminas, bolo e bolachas, diversas. Pão com manteiga (não é margarina). Só senti falta do bom e velho pão de queijo. Tem uma varanda que dá visão para a Serra do Espinhaço, que atravessa Minas e vai até a Bahia. Você vai ficar alguns minutos contemplando a paisagem e a brisa que vai e vem.


A cidade tem tudo e tudo perto: Lan-houses, padarias, drogarias, posto de gasolina. Diferente de Ouro Preto, onde há muitos turistas, a cidade é marcada por nativos e estudantes da UFVJM. Sugiro a visita às igrejas, em especial a igreja Nossa Senhora do Rosário, construida por escravos e onde há uma árvore na frente, que nasceu em cima de uma cruz.

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Verdade ou lenda?
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Há uma lenda que vai deixá-los intrigados, mas só indo lá, porque se eu contar perde a graça. Quase em frente a essa igreja, há um bar buteco chamado "Espaço da Magna". Magna é uma mineira gente boa que na ocasião pediu a minha ajuda, como se eu fosse fazer alguma coisa (ia sair correndo, claro!) pois um rapaz batia fervorosamente no orelhão ao lado do bar, como se estivesse entorpecido. Alarme falso. Não vi violência na cidade, muito pelo contrário. Magna me convidou para almoçar no bar e não me arrependi, o almoço é bom e valeu a pena. Outra dica para almoçar é um restaurante "coma à vontade" por 7 reais. Comida Boa, fica logo embaixo da Igreja de São Francisco de Assis. Outros locais para visitar: Mercado Municipal dos Tropeiros, Casa da Chica da Silva, Passadiço da Glória, Museu do Diamante, casa do JK. Em um dia e com um bom guia nas mãos, você conhece tudo. Reserve um dia para ir às cachoeiras, que acabei não indo, pois o tornozelo estava bem luxado e é preciso ir de carro, moto e fazer uma trilha leve para alcançar as cachoeiras. Quer comprar lembranças? Vai no Marcelo Jóias. Há coisas baratas e você vai bater um papo legal com a mineirada. Ou vá ao mercado municipal (dos tropeiros) e procure pelo Carlos, uma figura que faz jóias e brincos e é sósia do Osama Bin laden rs.

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Carlos, artesão faz brincos e colares por um preço bacana. Na praça dos Tropeiros.
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Na minha opinião, dentre todas as cidades históricas que pude conhecer, Diamantina é a menina dos olhos. É tudo muito fácil lá. A cidade é agradável e barata.

Se você é solteiro, está no lugar certo. Ô lugar pra ter mulher bonita. Porém, a paquera lá é complicada, vai precisar de muita lábia, as mineiras são tímidas e não olham nos teus olhos. Mas depois que você engata a prosa terá boas chances!

À noite há uns bares bem próximos da Catedral Metropolitada de Santo Antônio. Nas noites que fiquei na cidade, conheci um camarada de Ipatinga, que chegou no hostel logo após de mim. Documentarista de natureza. Doido de tudo, e gente fina. Fomos tomar uma num buteco barato, o Buteco do Fernandão, ao lado do Buteco do Fabrício. Devem ser primos, Fernando e Fabrício, ou alguma facção criminosa haha. É butecão mesmo! não vá lá achando que vai encontrar as misses Brasil por lá. Bar simples, rola uma música de viola, a cerveja e as porções são baratas. Vale a pena o custo benefício.

Nunca esqueçam o filtro solar fator alto, e usem tênis com amortecedor.

Minas Gerais é tudo de bom. Vale a pena uma vez na vida desbravar o bucolirismo da região. Você voltara cheio de vida e inspiração.

Esse Brasil à fora é cheio de pessoas, personagens e caricaturas, cabe à você descobrir esse mundo fabuloso.

Voltemos à realidade urbana.

Um abraço,

Ronaldo.
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