Meu nome é Ronaldo e como um urbanóide nascido e criado na cidade
grande, tenho um fascínio peculiar sobre o interior de Minas Gerais,
especificamente pelas cidades históricas, que são um misto de cultura,
aventura e natureza.
Quatro anos após a minha primeira visita
(São João Del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Ouro Preto e Mariana), escrevo
aqui o meu olhar renovado e muita coisa mudou. Posso confessar que
quando tudo é novidade tudo parece mais belo, o segundo olhar mantém o
primeiro, mas com um poder de descoberta muito mais apurado.
Parti
de São Paulo na sexta-feira, dia 15 de fevereiro, fui depois do
carnaval pra fugir um pouco da muvuca e dos albergues super lotados, já
que minha busca era pela calmaria. Minha rota era revisitar a velha Ouro
Preto, partindo para Congonhas onde queria reencontrar as obras do
Aleijadinho e a sala dos milagres, depois seguir para BH e de lá decidir
se embarcaria na grande aventura do trem da Vale do Rio Doce partindo
de BH rumo à Vila Velha no ES onde visitaria o oceano azul das praias
capixabas. Os percausos que encontrei me desviaram da rota. Nesse
primeiro dia, já encontrei o primeiro problema: Os ônibus diretos para
Ouro Preto estavam lotados (por isso compre com antecedência), e como eu
queria viajar pela madrugada para ter o sábado livre, optei por um
caminho que se caracterizou um grande erro. Peguei o ônibus até São João
Del Rei, às 21h40 e cheguei às 6h30 do sábado. O problema é que o Vila
Hostel, onde fiquei hospedado em 2009 não existe mais, uma pena! O
hostel era bom, e nesse momento tomei a primeira decisão: Ou procurava
um hotel (o que ia sair caro), ou partia já pra Congonhas. Parti para
Congonhas, chegando lá às 8h30. Eu estava cansado pela viagem e queria
explorar com calma a área além no Santuário do Bom Jesus de Matosinhos,
onde estão as famosas estátuas de pedra sabão dos 12 profetas esculpidas
por Aleijadinho, que por sinal, já conhecia.
Aí tem-se um
complicador: Para chegar a Ouro Preto a partir de Congonhas, não há
ônibus direto e é necessário ir até Ouro Branco e de lá pegar um outro
ônibus para Ouro Preto. Os horários colhidos na internet no site da
Viação Sandra estavam todos errados, o que quebrou as minhas pernas.
Pelos cálculos que fiz, só chegaria em Ouro Preto lá pelas 18hs. Eu
poderia ter deixado simplesmente a mochila num guarda volumes e já
explorado a área, afinal era cedo. Mas eu estava com muita dor de
cabeça. O próximo ônibus para Ouro Branco sairia ao meio dia, o que me
deixaria 4hs no aguardo. Perguntei a um taxista que fica na rodoviária
quanto sairia a corrida de Congonhas até Ouro Branco, e o preço dado foi
de 60 reais! Lembrando que o ônibus Congonhas-Ouro Branco custa 5,50.
Na
rodoviária um rapaz me pergunta se eu iria pra BH e me informa que de
lá poderia pegar um ônibus para Ouro Preto, o que minimizaria meu tempo,
mas não meu gasto, optei por essa opção, grande erro!
BR 040 -
Rodovia da Morte: No táxi estávamos eu, o rapaz, uma outra moça e o
motorista, bem gente boa por sinal. A corrida ficaria 20 reais para cada
um, previamente já combinado com o motorista. O percurso é uma
adrenalina à parte. A rodovia é mão dupla, marcada por sinuosidades e
curvas fechadas, extremamente perigosas. No meio do caminho é possível
perceber rodas, pára-choques e outros pedaços de carros, provavelmente
ocasionados por batidas espalhados pela pista e pelos canteiros. O
velocímetro do táxi marcava 140km por hora, quando um caminhão carregado
de minério de ferro avançava na traseira do táxi pedindo espaço.
O motorista abriu e o
caminhão rasgou em velocidade ao nosso lado, vejam... o táxi estava a
140km/h, provavelmente o caminhão estava a 160km/h. Imagina quantas
toneladas a tal velocidade, o impacto que isso causaria? O coração vai a
mil e pensei que daquele dia não passaria. O entorno é marcado por
obras e atividades de mineradoras como a Vale do Rio Doce:
Não é à toa que essa rodovia é conhecida como a rodovia
da morte, segundo relato do próprio motorista, acidentes são frequentes e
quase diários. Se o motorista perde o volante numa das curvas, um
abraço, colisão, e no caso de caminhão, este passa por cima de quem
estiver vindo em sentido contrário. Outro problema, não há como trafegar
em baixa velocidade senão o carro será engolido por quem vem logo
atrás, em alta velocidade. Ou seja, se tiver outra opção, evite essa
rodovia de carro, que é um perigo eminente à vida.
Belo
Horizonte: Após uma hora, cheguei em Belo Horizonte. A primeira
impressão não foi boa. Cidade grande, me lembrou logo São Paulo. Pra
quem quer fugir da agitação e do barulho do trânsito, BH não é uma boa.
Desci na Rodoviária e de lá embarquei no ônibus para Ouro Preto.
Voltamos à BR 040, mas dentro do ônibus é mais tranquilo, porque você
está envolto à uma caixa de aço maior e mais potente, o que confronta
com o tamanho dos caminhões, deixando mais justa a temeridade entre os
dois motoristas. Com o táxi há uma tremenda desvantagem. O percurso é
demorado, levei 2 horas e 25 reais a menos no bolso, preço da passagem.
Ouro
Preto: O choque da primeira vista de Ouro Preto não existe mais. Nunca
perde o charme, mas numa segunda vista, você percebe que já passou por
aqueles lugares e por mais que as ladeiras reforçam esse pensamento,
nunca é tarde para descobrir coisas novas, pessoas e uma Mina de Ouro
encantadora de um rei Africano chamado Chico. Desci do ônibus e caminhei
até o Ouro Preto Hostel, você precisará caminhar uns 15 -20 minutos até
chegar lá e se tiver de barriga cheia com um tênis de sola baixa e
mochila pesada nas costas, tenha certeza que é bem capaz de sair rolando
ladeira abaixo. O calçamento feito de pedra pelos escravos tornam a
marcha lenta e exige um certo cuidado onde você pisa. No meu caso,
enfiei o pé num espaço entre duas lajotas de pedra e senti uma torção no
tornozelo direito, o que ocasionou uma luxação.
Para se chegar
lá, é mais ladeira abaixo do que ladeira acima. O lado bom é que tem
alguns mercadinhos baratos onde você pode comprar mantimentos. E o
interessante no trajeto é que adentrei becos estreitos que pareciam
labirintos e um córrego sob uma ponte. Você chega a se perder, mas é uma
ótima oportunidade para fazer contato com os moradores das casas e com a
criançada que brinca de bola sem se preocupar com o tempo. Parei ao
lado de um grupo de crianças e pedi a informação. Foi divertido, pois
ambas queriam informar o forasteiro. Coordenadas passadas, tive uma
sensação bacana ao perceber que o hostel fica quase ao lado da Mina do
Chico Rei, que merece um capítulo à parte.
Ouro Preto Hostel:
Menos visado que o Brumas, eu era o único hóspede da noite. Fui atendido
por Marisa, uma senhora simpática por quem criei grande empatia e que
não sabe falar o r das palavras e fala "Polta" ao invés de "Porta" dando
um charme sonoro nas palavras soltadas. Me indicou o quarto coletivo,
onde permaneci o tempo todo sozinho. O quarto que fiquei tem uma vidraça
ao invés de uma das paredes e é menos apertado do que o hostel de BH. O
banheiro fica num corredor logo à frente e é coletivo tanto para homens
como para mulheres, portanto, tomem cuidado senão te pegam com a cueca
na mão. O Café: Nota 10. Tem o famoso pão de queijo, dois tipos de bolo e
por ai vai. Aproveita e enche a pança pra não sair gastando em Ouro
Preto, um salgado e um suco sai quase 10 pilas. Na sala social,
acostume-se com lagartixas que parecem lagartos e borboletas coloridas
que pousam sobre as paredes.
A Mina do Chico Rei, um retorno ao
passado: Larguei a mochila e fui explorar a área. Dei de cara com a Mina
do Chico Rei cuja reza a lenda, era rei na África e veio trazido
escravo para o Brasil, onde trabalhou na mina que leva o seu nome, pois
acumulava ouro debaixo das unhas para posteriormente alforriar os
escravos.
Grande sujeito. A mina já chama a atenção logo na entrada.
Trata-se de uma casa rústica, com mobiliários rústicos, onde comporta
um restaurante onde se ouve jovens cantando músicas do Milton
Nascimento, Lô Borges e Flávio Venturini. Rolou até um Renato Russo.
No restaurante são servidos o que há de melhor na
culinária mineira, porém o preço é bem turístico. Logo na entrada, dá-se
de cara com móveis antigos e uma cachaçaria, onde é possivel provar um
copo de cachaça das boas e adquirir uma garrafa por uma bagatela,
digamos, justa pra quem tem dinheiro sobrando. Para visitar a mina, o
preço são 10 reais. Um guia se apresentou: Tratava-se de Ademir, segundo
o mesmo me disse, seu nome de batismo, mas que posteriormente virou
Indiana Jones e há 5 anos se chama por Bianca Pink. Figuraça!
Você contrata o guia e paga o que achar justo. Antes da
entrada da mina, há uma cozinha-lanchonete onde são preparados os
pratos, mesas de pedra, um chafariz onde é possivel tomar água da mina
potável e criteriosamente analisada, direto da bica. Patos e galinhas
dançam para lá e para cá observados pela figura de branca de neve e os
sete anões feitas de cerâmica que adornam o ambiente. Bem legal. Dentro
da Mina, Indiana Jones, ops, ou melhor, Bianca Pink faz uma esplainação
sobre a história da mina. Antes que me esqueça, é preciso usar uma touca
e um capacete de engenharia civil, Bati a cabeça três vezes nas rochas
da mina que vai se estreitando na altura à medida que vai sendo
adentrada.
A mina é um espetáculo. Para os geólogos de plantão, é um
prato cheio. As pessoas costumam sair um pouco sujas de lá, mas eu sai
parcialmente sujo de areia e terra. Pinga água do teto, e pra quem tem
claustrofobismo, não é aconselhável. É o passeio que mais valeu a pena
nessa segunda visita a Ouro Preto. Ao final, agradeci Bianca Pink, não
encarei o almoço e parti pra bater foto da casa que é bem interessante.
Partindo
para Congonhas: Essa foi treta das brabas! e me fez lembrar que no
primeiro dia que passei por lá, já deveria ter aproveitado e cumprido
minhas missões. Altos perrengues. Acordei cedo no domingo e de cara já
perdi o ônibus das 7h30 para Ouro Branco. Olhei os horários que coletei
da internet no site da viação Sandra e vi que tinha um ônibus ao meio
dia. Pelos meus cálculos, ainda me sobrava uma folga para fazer a
visitação tranquilamente. Cheguei na Rodoviária de Ouro Preto e fui
informado pela moça do guichê que esse ônibus do meio dia não existe, e
que o próximo era às 13h15. Ou seja, todo meu esquema tático começara a
ir por água à baixo. Mas como eu já estava lá, o jeito era seguir em
frente, afinal, cada dia perdido era gasto no bolso. O ônibus chegou no
horário e os passageiros embarcaram. O caminho para Ouro Branco é
interessante: Belas paisagens, entradas em algumas cidadezinhas onde é
possivel apreciar o bucolismo regional, algumas construções antigas e
montanhas, muitas montanhas. Chegando em Ouro Branco uma hora e meia
depois, nova surpresa: Tinha acabado de sair um ônibus e o próximo era
somente às 15h40. Infelizmente as empresas parecem não se preocuparem
com as questões dos horários, de forma a tornar hábil o descolamento
entre uma cidade e outra sem o risco da pessoa perder um ou outro
ônibus. Digo isso porque é questão de minutos. Se tal ônibus saisse 15
minutos antes ou depois, seria visivelmente possivel a conciliação nos
horários. Se eu pegasse o ônibus das 15h40 rumo à Congonhas,
obrigatoriamente teria que sair de Congonhas no ônibus das 16h15 para
poder chegar em Ouro Branco novamente e pegar o último ônibus para Ouro
Preto, às 19hs. Havia um ônibus às 18h30 que saía de Congonhas para Ouro
Branco, mas era praticamente impossível pegar esse e dar tempo de
embargar no de Ouro Preto. O risco seria eu perder e dormir na
rodoviária. Era preciso tomar uma atitude rápida. Não tinha como
retornar no dia seguinte e nem partir sem visitar a sala dos milagres,
minha missão principal da viagem. Uma passagem para Ouro Preto, no
ônibus das 19hs. Assumi o risco. Peguei o das 15h40 rumo a Congonhas,
sem saber como voltaria a Ouro Branco. Cheguei em Congonhas às 16h10.
Não havia tempo a perder. Conversei com um taxista que cobrou 15 reais
até o Santuário do Bom Jesus de Matosinhos. Achei caro, mas nao havia
tempo. No meio do caminho, perguntei a ele quanto sairia para levar até
Ouro Branco: Bagatela de 60 reais. Diante da minha feição, ele fez uma
proposta: Te cobro dez reais essa corrida até o Santuário, se você
combinar comigo de ir até Ouro Branco por 60 reais, totalizando 70. Como
eu estava na lama mesmo topei. Chegando ao Santuário ele cobrou: 15
reais a corrida. Pera-lá, não eram dez? 15 reais, enfatizou. Senti uma
tentativa de enrolação. Paguei os 15 reais e combinei às 18hs dele
passar lá pra irmos a Ouro Branco. Me senti um tanto lesado, o cara diz
uma coisa e faz outra. Mas eu dei o troco. Congonhas é surreal.
Aleijadinho mestre. O Barroco e o rococó estampado nas figuras e olhares
emocionam. Até quem não é crítico de arte, percebe a beleza do estilo e
a sensibilidade do artista. O céu estava bonito, misturando tons de
azuis com amarelo do Pôr-do-Sol e um cinza tímido de nuvens que trazem
chuva, mas que não quiseram estragar a beleza do céu azul.
Sala dos Milagres. Esse era o ponto principal da viagem.
Agradeci a graça dada, colei meu bilhete nos ínumeros outros que
preenchem a sala e li uma história interessante de uma foto datada de
1931. Na foto, um homem contava que caminhava com seu cavalo pelos
campos esverdeados, quando um raio o alvejou junto com seu cavalo. O
cavalo não resistiu, a árvore rachou no meio, os botões da camisa e
botas chamuscaram, mas o homem saiu ileso. Milagre? não duvido. É uma
sala especial com muitas histórias de dor que se reverteram em cura ou
melhoria. Só sei que estava lá por um motivo especial. Na saída, percebi
um velho cachorro deitado sobre o piso frio. Senti muita dó, porque
gosto de bicho. O cachorro estava bem magro, pedindo um afago. Toquei a
cabeça do amigão desejando naquela casa dos milagres que as coisas para
ele melhorassem. Creio que ele ficará bem, é o que mais desejei em toda a
viagem.
Às 17 horas desci o gramado que levam às cúpulas, num fim
de tarde agradável, pensando comigo, como voltaria à Ouro Branco. Como
não sou feito de pedra-sabão, resolvi que daria um balão no taxista
charlatão. Encontrei um outro táxi estacionado na esquina e perguntei se
não fechava a corrida por 50 reais. O motorista topou, ganhei dez reais
e ainda tive uma aula sobre inundações e caracteristícas urbanísticas
de Congonhas. Valeu os 50 paus. Cheguei à tempo na rodoviária e rumei
para Ouro Preto.
Dica: Evitem os táxis, são caros. Informem-se
sobre os horários de ônibus diretamente na rodoviária, acordem cedo e
façam a visita sem correria. Tudo dará certo, eu acho rs.
De
volta a Ouro Preto percebi que só tinha dois reais no bolso. A maioria
dos lugares não aceitam cartão de débito ou crédito, portanto, carregue a
carteira com algumas notas, senão, roça. Como já era noite, por volta
das 22h, tive que atravessar uma rua estreita, quase sem calçamento, que
passa rente uma igreja velha setecentista com um cemitério do lado, se
você tem medo de fantasma não recomendo, dá pra ouvir umas coisas
estranhas lá.
O legal de ficar em Hostel é que parece um
congresso da ONU. Chegaram duas Norueguesas, mas não deu tempo de
interagir, peguei a mala cedo no dia seguinte e parti pra BH. Tomei um
choque. BH é tão caótica como São Paulo.
Em BH peguei o metrô,
que é logo atrás, na estação Lagoinha. O Hostel Chalé Mineiro, fica três
estações da rodoviária, num percurso que leva de 10 a 15 minutos. Uma
caminhada leve de 200 metros te leva ao Hostel.
Chalé Mineiro
Hostel: É uma casa enorme e bem organizada. A recepcionista é bem
simpática e te dá todo auxilio. Você ganha uma chave para entrar e sair
da casa que deve ser devolvida no check out. A sala é ampla, com TV e
dvd e um computador com internet. Meia hora 2 reais e 1 hora 3 reais. A
casa tem piscina que pode ser usada e vários banheiros. A área de
convivência é grande e dá pra cozinhar. Ponto positivo para a parte
superior onde fica a lavanderia, poucas pessoas descobrem que a casa tem
esse canto, onde duas estátuas de anjos repousam e observam o fim da
tarde. Há uma mesa e uma cadeira sob um guarda-sol pra você ler e
apreciar o cair do dia. É o lugar mais bacana da casa. Os quartos:
Coletivo masculino muito amontoado. O Hostel está sempre cheio, chegando
gente. Havia quatro beliches, o que deixou o quarto apertado. No quarto
havia dois americanos, um deles, o John entrou num embate político
quando perguntei de qual estado americano ele era. Texas. "Terra do
Bush" ai virou discurso de republicano com petista. Há padarias e
sacolões próximos, assim como ônibus indo e vindo. Porém, achei os
preços das padarias caros, mais caros até que em São Paulo. Descobri que
há um bar-buteco-restaurante que serve PFs (pratos feitos) por 7 reais,
se chama Sacramento's, faz jus ao nome porque você sai de lá rezando,
porém se você for corintiano não vai curtir, o bar é todo verde, desde
as paredes e mesas e cadeiras, ao uniforme dos atendentes. Clorofila
pura! A comida é boa, mas lembre-se: é um buteco. Se você for mais
exigente não vai curtir. A minha intenção era a busca pelo bucólico, o
lirismo que falta nas grandes cidades. Queria ver o verde da natureza e
as construções antigas, tão fascinantes como belas. No dia seguinte
acordei bem cedo e fui conhecer a histórica Sabará.
Sabará, a
grande surpresa: Sabará está a mais ou menos 20km de BH, entao, decidi
que era pra lá que eu iria. Acordei cedo e rumei à rodoviária. Lá
descobri que o ônibus para Sabará saia da rua Caetés, no centro
comercial, em frente à Loja Rede. Roda 40 minutos e desemboca numa
avenida onde corre um córrego. Subi uma ladeira e dei de cara com um
cemitério e a belíssima Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo. Por 2
reais você visita ela por dentro e vislimbra os foleamentos a ouro e os
móveis e objetos da época, além de trocar uma idéia com o Sr. Ari, que
cuida da igreja. Saindo de lá caminhei pelas ruas calmas até me deparar
com o Museu do Ouro. Se prepare que você vai precisar de algumas horas
para percorrer todas as salas, e contemplar a enorme roda de madeira
maciça que está exposta no quintal, onde os escravos da época faziam a
separação dos minerais. Só tome cuidado com as aranhas, há diversas
sobre a estrutura de madeira e você pode ser picado. Quase tomei uma.
Sabará
em si exala um ar campestre. Como estava longe do centro histórico, me
indicaram uma igreja riquissima em detalhes e onde um Cristo de quase
dois metros de altura impressiona pelo detalhadamento e expressividade
que passa. A igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição é uma das mais
antigas de Minas é uma das mais exuberantes. Com o tempo já estourando,
os nativos me indicaram conhecer a pequena igreja de Nossa Senhora do Ó.
Precisei caminhar bastante até chegar nela. Atravessei
ruelas, becos e uma linha de trem, e me deparei com ela no centro de uma
ladeira. É a menor igreja das cidades históricas, e a que mais gostei. É
tão pequena, mas ao entrar você se depara com tamanha beleza artística
que só indo lá pra ver. Não deu tempo de conhecer o centro histórico,
peguei o ônibus, cheguei em BH, arrumei a mochila e fui encarar uma
viagem de 5 horas, até chegar em Diamantina.
Diamantina, a menina
dos olhos: Desisti do trem da Vale do Rio Doce. 14 horas de viagem
atravessando montanhas mineiras com a linha de chegada em Vila Velha no
ES. Vai ficar pra uma próxima. Nas mãos, um exemplar de um livro antigo,
da série vagalume, você de 30 anos certamente se lembrará.
Spharion
Foi uma das melhores literaturas que li na infância e
justamente a história se passava em Minas Gerais, nas cidades históricas
de Congonhas, Diamantina e Serro. Pela primeira vez vislumbraria onde
os personagens Dico Saburó, Dina e o temível Spharion percorreram e
fascinaram a criançada da época. A viagem é um tanto longa, e a dica é: A
viação Pássaro Verde cobra a passagem mais barata no ônibus das 18h45,
de 75 reais por 55 reais, 20 reais poupados. Você passa por algumas
cidadezinhas como Curvelo e Gouveia. Bem provincianas. Cheguei por volta
das 23h30. O Hostel é relativamente perto, uma caminhada em linha reta,
cerca de 200 a 300 metros da Rodoviária.
Diamantina Hostel:
Disparado o melhor Hostel que conheci. É uma casa gigante, parece um
hotel fazenda. Os móveis são rústicos, os quartos são todos suítes. Os
quartos são identificados por nomes de minerais como Safira, Rubi,
Ametista (o quarto que fiquei) e na porta há uma breve esplainação
contendo informações sobre o mineral. Mais uma vez era o único hóspede
do hostel. O chuveiro é a gás e exigirá uma mão calibrada pra atingir a
temperatura ideal. A pressão é forte. O chuveiro é bom, confia que vai. O
café da manhã tem suco, vitaminas, bolo e bolachas, diversas. Pão com
manteiga (não é margarina). Só senti falta do bom e velho pão de queijo.
Tem uma varanda que dá visão para a Serra do Espinhaço, que atravessa
Minas e vai até a Bahia. Você vai ficar alguns minutos contemplando a
paisagem e a brisa que vai e vem.
A cidade tem tudo e tudo
perto: Lan-houses, padarias, drogarias, posto de gasolina. Diferente de
Ouro Preto, onde há muitos turistas, a cidade é marcada por nativos e
estudantes da UFVJM. Sugiro a visita às igrejas, em especial a igreja
Nossa Senhora do Rosário, construida por escravos e onde há uma árvore
na frente, que nasceu em cima de uma cruz.
Há uma lenda que vai deixá-los intrigados, mas só indo lá,
porque se eu contar perde a graça. Quase em frente a essa igreja, há um
bar buteco chamado "Espaço da Magna". Magna é uma mineira gente boa que
na ocasião pediu a minha ajuda, como se eu fosse fazer alguma coisa (ia
sair correndo, claro!) pois um rapaz batia fervorosamente no orelhão ao
lado do bar, como se estivesse entorpecido. Alarme falso. Não vi
violência na cidade, muito pelo contrário. Magna me convidou para
almoçar no bar e não me arrependi, o almoço é bom e valeu a pena. Outra
dica para almoçar é um restaurante "coma à vontade" por 7 reais. Comida
Boa, fica logo embaixo da Igreja de São Francisco de Assis. Outros
locais para visitar: Mercado Municipal dos Tropeiros, Casa da Chica da
Silva, Passadiço da Glória, Museu do Diamante, casa do JK. Em um dia e
com um bom guia nas mãos, você conhece tudo. Reserve um dia para ir às
cachoeiras, que acabei não indo, pois o tornozelo estava bem luxado e é
preciso ir de carro, moto e fazer uma trilha leve para alcançar as
cachoeiras. Quer comprar lembranças? Vai no Marcelo Jóias. Há coisas
baratas e você vai bater um papo legal com a mineirada. Ou vá ao mercado
municipal (dos tropeiros) e procure pelo Carlos, uma figura que faz
jóias e brincos e é sósia do Osama Bin laden rs.
Na minha opinião, dentre todas as cidades históricas que
pude conhecer, Diamantina é a menina dos olhos. É tudo muito fácil lá. A
cidade é agradável e barata.
Se você é solteiro, está no lugar
certo. Ô lugar pra ter mulher bonita. Porém, a paquera lá é complicada,
vai precisar de muita lábia, as mineiras são tímidas e não olham nos
teus olhos. Mas depois que você engata a prosa terá boas chances!
À
noite há uns bares bem próximos da Catedral Metropolitada de Santo
Antônio. Nas noites que fiquei na cidade, conheci um camarada de
Ipatinga, que chegou no hostel logo após de mim. Documentarista de
natureza. Doido de tudo, e gente fina. Fomos tomar uma num buteco
barato, o Buteco do Fernandão, ao lado do Buteco do Fabrício. Devem ser
primos, Fernando e Fabrício, ou alguma facção criminosa haha. É butecão
mesmo! não vá lá achando que vai encontrar as misses Brasil por lá. Bar
simples, rola uma música de viola, a cerveja e as porções são baratas.
Vale a pena o custo benefício.
Nunca esqueçam o filtro solar fator alto, e usem tênis com amortecedor.
Minas
Gerais é tudo de bom. Vale a pena uma vez na vida desbravar o
bucolirismo da região. Você voltara cheio de vida e inspiração.
Esse Brasil à fora é cheio de pessoas, personagens e caricaturas, cabe à você descobrir esse mundo fabuloso.
Voltemos à realidade urbana.
Um abraço,
Ronaldo.
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