8 de outubro de 2011

Uma nave chamada Houston

Pilotar uma nave nunca foi fácil, ainda mais na calada da noite. Lembro-me bem de estar esparramado no sofá, roncando, quando o telefone tocou. Era um chamado, para fazer parte de uma equipe de Televisão. Aceitei o convite, já que naquele momento era a única opção de voltar à ativa. Porém havia cinco anos que estava enferrujado, e precisaria passar por um teste, para fazer parte da tripulação. Naquela mesma noite, adentrei às portas da nave e conheci o comandante diretor de imagem, o operador de áudio, o produtor e a produtora, e o operador master, o câmera man. Minha função? Caracteres. http://www.youtube.com/watch?v=7eUMB8FS6C8

Aprovado no teste, a nave alçoou voô num mergulho profundo na escuridão das madrugadas. Enquanto a grande maioria das pessoas dormiam, nós pilotávamos a nave, quando o Sol nascia, éramos nós que hibernávamos. E foi assim por 521 madrugadas.

Ontem, após mais de um ano sem dormir direito de noite, tive meu primeiro sono de 8 horas normais aos mortais, e tomei um grande susto ao acordar, pois voltei a sonhar novamente. Era como se nunca tivesse sonhado, era como se o cérebro tivesse se mantido congelado e degelado, voltando ao seu estado normal de funcionamento. Não duvidaria se ele realmente tivesse congelado, as madrugadas que a nave Houston atravessou foram por alguns invernos, de grandes geleiras e baixíssimas temperaturas.


E foi uma grande aventura. Era botão daqui, botão dalí, luzinhas acessas, luzinhas piscantes e contagens regressivas intermitentes. E valeu muito a pena. Infelizmente, no dia cinco de outubro do ano de 2011 depois de Cristo, enfrentamos uma grande nuvem de asteróides, o que ocasionou grandes e irreversíveis avarias em nossa nave. Fomos obrigados a retornar ao planeta Terra e aterrisar. O estrago estava feito. Fomos convocados pelas autoridades que, um a um, fomos dispensados. Foi, sem dúvida a melhor tripulação que já pude conviver e trabalhar. Era o fim. A missão da madrugada havia sindo extinta e deixávamos nossos postos para nos tornarmos humanos novamente. Nós não éramos humanos no espaço Sideral, éramos um bando de loucos no espaço, mas competentes. No olhar perdido de cada tripulante que partiu cada qual para seu destino, hoje eu acordo de minha cama, calço minhas chinelas e abro os olhos depois de uma noite inteira dormida, e percebo que sonhei demais, mesmo me mantendo tanto tempo acordado. Ao que posso dizer, ao fim de grande jornada é que a madrugada com certeza sentira grande falta de nossa nave Houston e sua tripulação maneira.

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