27 de maio de 2010

Bauru das saudades minhas

Virada Cultural em Bauru, uma semana após a virada em São Paulo. A virada em São Paulo me trás algumas lembranças: caí no Show da Zélia Duncan, vi meia dúzia de ratos, blitz policial, pizza frita, um portão de ferro, um breve adeus, metrô cheio às 3 da madrugada e o sofá lá de casa. Essa foi a virada na capital.
No Sábado seguinte minha mochila estava pronta. Só faltava descobrir um jeito de enfiar a ipanema (a minha não é a original havaina, é a genérica ipanema). Na sexta à noite me deu vontade de fazer alguma coisa interessante e mais uma vez o foco da ação foi buscar algo lá dentro. Parei alguns instantes a pensar o que realmente desejaria naquele momento e me veio a vontade de um reencontro e um encontro. Troquei mensagens com a Priscila Franco, uma amiga até então virtual, oriunda da Unesp. A gente se falava um bocado há quatro anos, mas nunca tivemos de fato um encontro real ao vivo e a cores e em 3D. Era a oportunidade, pois ela me informava que estaria em Bauru naquele fim de semana. E a Lia? onde estaria Lia? a ex-voluntária do CVV, romântica assumida que adorava a história da Violeta e sonhava com pêssegos. Há mais de um ano que não tinha contato com ela e naquele momento propûs a minha missão do momento: encontrar Priscila e reencontrar Lia.
No sábado de manhã o celular tocou às 5h40, tempo suficiente pra me arrumar e pegar o ônibus das 7 horas. Mas as minhas pernas estavam tão doloridas pelos esforços repetitivos nas parafernálias da academia, que naquele momento desistia da viagem. Às 8h30 a voz do meu irmão me questionava se eu não viajaria. Ele me disse " olha o céu, tudo nublado, tu vai ficar aqui? vai viajar, vai dar um perdido na vida". Liguei o computador para cancelar todas as tentativas de encontro, mas na minha página de orkut uma mensagem já dizia "Te vejo lá. Priscila". Ainda cheguei a apagar uma outra mensagem, mas dois dias depois me arrependeria.  Abri a janela pra ver o tempo, como estava feio! olhei pro lado e a mochila armada. Quer saber de uma coisa? Bauru aí vou eu!
Às 11 horas da manhã já estava no ônibus. De Barueri em diante, o céu passou do cinza chuvoso para o azul ensolarado. Às 13h15 enquanto comia um pastel no Rodoserv, recebi a mensagem da Priscila que já estava em Bauru. Às 15h45 (tenho mania de guardar as horas) o ônibus apontava na rodoviária em Bauru e da janela vi Geraldo na porta do posto. O clima em Bauru estava agradável e com sol, mas sem o calor habitual da cidade. Desci até o posto e dei um susto "Geraldão! quanto tempo!" meu amigo voluntário Geraldo, companheiro do episódio da aventura de Rio Claro em 2005 no seminário dos padres (olha a redundância). Geraldo me convidou a entrar no posto. Eu já meio que sabia que eles estariam alí, na noite anterior fiz um interurbano na tentativa de persuadir a voluntária de nome Nilva a me dar o telefone da Lia, mas a filosofia é bem rígida e nada de telefone. Alguns minutos depois apareceram a própria Nilva, simpática por sinal e Conceição, uma das voluntárias mais antigas do posto. Mas ainda havia um problema, onde estaria Lia? Soube pelo Geraldo que em dezembro último ela saira do posto, após 13 anos. Consegui fazer uma ligação do próprio posto, com a ajuda do Geraldo e a voz dela dizia "que surpresa, anota meu endereço". Lia se mudava mais do que cigano e desta vez ela estava no Bairro Bela Vista.
Caminhei pelas nações, mais trôpego do que camelo manco, após tomar um café, olha o vício, na antiga lanchonete verde da rodoviária lembram? a mesma do episódio da nota falsa de vinte reais rs. Hoje virou o Fran's Café, até que bem ajeitadinho. Cheguei no Hotel Cidade de Bauru que fica na Rua Agenor Meira com a rua primeiro de agosto. Gosto desse hotel, apesar da aparência da década de 70 com móveis retrôs e chuveiro a gás, ele tem um certo charme.

A Casa nova de Lia, morte de um amigo


Meu senso de direção nunca foi bom e desci oito quadras antes do destino. Caminhei enquanto a luz do sol recaía na pacacidade da vida. Encontrei a casa e de longe ouvi a voz de Lia. Era uma casa de madeira, típica em alguns bairros de Bauru.

"Lia, sua casa é uma de madeira que tem uma montanha de areia em frente, com um portão cinza?
"Sim, é essa mesma, onde você está?"
"Estou olhando pra você!


Lia desligou o telefone e veio abrir o portão pra mim. Dei um abraço. Dentro da casa estava dona Isabel com seus óculos escuros na mesma posição que sempre a vi ao longo dos anos, sentada em seu sofá assistindo televisão. Foi muito legal reencontrá-las, mas logo de cara senti a falta de um amigo

"Cadê o Lobo?"
"Ah, eu não te falei né? ele morreu, há quase um ano"

Hum... o Lobinho morreu. Lobo era o cachorro de Lia, um SRD preto e branco de olhos azuis. Aquela informação me entristeceu, pois eu adorava o cachorro. Ele sempre ia lá cheirar o meu pé e dar a fucinhada habitual. Fiquei muito sentido, pois os animais são a companhia de Lia e Lobo era muito mais do que um companheiro, era a alegria que movimentava a casa. Mas no canto do sofá tinha um rabo balançante lá.



"Quem é essa?"
"É a Susi"

Susi é uma cadela SRD, muito parecida com Lobo e que havia sido adotada por Lia, que sempre gostou dos animais. Além de Susi, vi Melanie, uma gata malhada já no auge dos seus 16 anos e Tuca, um gato vaquinha com pêlo arrepiado. Só Faltou o Lori, mas esse é envergonhado.

Tomei um café com Lia e atualizamos o papo. Fiquei feliz em saber que finalmente ela conseguiu vender o terreno do Jardim da Grama, bairro periférico de Bauru e que comprara aquela casa. Agora não tem mais como perdê-la de vista. Contei algumas histórias e presepadas da vida, assim como ela me contou de seu romance com o pêssego. Já era de noite e eu acabava de receber uma mensagem de Priscila

"Me encontre as 23h30, lembra onde é no outro lado, do Habib's'?"

Me despedi de Lia, de dona Isabel, dos cachorros e gatos. Prometi voltar independente de quanto tempo duraria essa volta, pois Lia sabe que um dia eu volto, não importa a década, não importa o tempo, o amigo sempre volta e nunca te perde de vista. Acho que será assim, por longos anos.


Encontrando Priscila



"Ué, essa locomotiva não vai andar não?"


A Maria-fumaça gerava curiosidade aos visitantes do Museu ferroviário de Bauru, que também participava da virada cultural. Quando vi a danada lá lembrei do "Até a Próxima Estação". Só faltou Alfeu e Violeta no cenário. Aproveitei as duas horas que ainda tinha antes do show pra rever o museu, onde trabalhei no ano de 2003. Deu muita saudade das tardes em que passava lá, com o jaleco branco e empoeirado. Dentro do vagão, percebi uma moça que brincava com duas crianças. Olhei uma vez, olhei duas e me lembrei.


"Ei, te conheço"
"Me conhece?"
"Sim, você é a Cris da TV Tem certo?"


"Certo, e você quem é?"
"Sou o homem das cores lembra? em 2004? Cris vermelho?"


"Ah, lembro sim..." (no fundo acho que ela não lembrou)
"Bom, vou embora, pelo jeito isso aqui não vai andar"




Sai do museu e chegando ao hotel tive uma ótima surpresa: O chuveiro não esquentava.


"Alô, é da recepção? o chuveiro não esquenta!"

"Você tem que deixar três minutos, daí esquenta"


Passaram-se três, quatro, cinco e nada do chuveiro esquentar. Lembrei de que um dia na vida me disseram que frio era psicológico. E o pior é que nesses casos a melhor forma é você entrar com tudo. Nada de pé direito, pé esquerdo, vai com tudo. Dois minutos depois senti o vapor subindo, mas daí já era.


23h30 estava no ponto. Só tinha eu no ponto e nada do ônibus. Nesse horário as linhas já não circulam, somente a linha noturna. Estava atrasado, resolvi andar estrupiado mesmo. Reconheci Priscila de longe. Pra ser sincero, já conhecia a figura da Priscila, apenas nunca conversamos pessoalmente. E não foi estranho um encontro assim, era como nos conhecéssemos há anos, a diferença era que a resolução era em 3D. Fomos ao show, eu e ela. Conversamos bastante e estou devendo uma cerveja pra ela. O Show em si não era o que importava e nem me incomodei com a árvore que estava bem na minha frente impedindo a visualização do Ultraje à Rigor. O que me importava talvez, era o tempo que tentava recuperar, por ações não feitas no passado. Afinal, não precisava de cinco anos de distância para me tornar amigo de Priscila. Mas na ocasião não o fiz, mas me sentia feliz em fazê-lo agora. É como se vencesse uma fase de um jogo, que havia pulado. Agora sim, estava tudo certo. Acompanhei- a até o prédio em que estava hospedada, de frente à kitnet onde morou a Renata e uma lembrança logo me veio; Lembrei-me do dia em que eu e o Sidão estávamos debaixo da janela da Kitnet e cantamos muito desafinadamente a música "She Loves You" dos Beatles. Ainda proseamos um bocado e me mandei era umas três horas da madruga. Caminhar as nações em plena madrugada não foi fácil. Cheguei no hotel, programei o relógio para despertar as 7h30 para tomar o café do hotel, em especial o bolo de fubá.


Minha última missão foi ir até o Sesc. Quem estava lá? A Renata da UFRRJ. Não conhecia a Renata, que me adicionou há alguns anos no orkut. Diz ela que foi com a minha cara. Fui lá em pleno domingão pela manhã, a vi através do vidro.


"Oi Rê!
"Oi Rô"


e mais algumas dezenas de palavras trocadas. Foi um encontro bem rápido, pois ela estava em expediente. Minha diária iria vencer ao meio dia e não dava pra fazer mais nada. Peguei a mochila, fechei a conta, e cortei pelo pior caminho possível para chegar na rodoviária. Esqueci que tinha a feira do rolo de domingo e foi por lá que fui. Fiquei preso no congestionamento de pessoas, que iam e vinham, o que me fez perder preciosos minutos. Cheguei na rodoviária faltando três minutos para o ônibus sair. E dentro do ônibus de volta pra São Paulo, assisti ao filme "Sempre ao seu lado". Valeu a pensa e penso que às vezes é muito bom recorrer a boas lembranças pra inspirar o presente.





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